Em 24 de abril de 93, aconteceu o primeiro show de uma das maiores bandas do rock nacional, é fácil afirmar que todos os brasileiros já se depararam com pelo menos um hit da banda, até os dias de hoje, novas gerações se encontram nas letras atemporais da banda que refletem a realidade e situações do cotidiano de muitas pessoas.
E em 1996, a banda assinava com a Virgin Records e lançava seu álbum de estreia, Transpiração Contínua Prolongada, no ano seguinte. Foi às primeiras paradas da rádio e se tornou um sucesso absoluto, continha O Côro Vai Comê, Tudo Que Ela Gosta De Escutar, Gimme o Anel, Proibida Pra Mim (Grazon) e o autointitulado; o álbum despontava o talento da banda, tanto instrumental quanto vocal, mas ainda não era o melhor que eles tinham para oferecer, isso viria apenas em 1999 com o Preço Curto… Prazo Longo.
Com 25 faixas, e duração de 1h e 8m; incorporava as faixas que não foram aprovadas para o álbum de estreia da banda, e juntamente delas, trazia o tal lado B. Reggae, Rap, Hardcore e o Ska sempre foram gêneros que influenciaram e determinaram a sonoridade da banda, mas aqui eles se provam como a essência da mesma, convidando, principalmente, rappers e DJs da época; contando com Homens Crânios, D Menos Crime, RZO, Consciência Humana, Rajah, P.M.C, DJ Deco, CH, DMC, entre outros.
Neste disco fica claro o porquê Charlie Brown Jr fez sucesso, a banda conseguia reunir todas essas tribos e extrair o melhor a ser oferecido, isso se dava por conta das amizades que o vocalista, Chorão, havia construído com o skate. Foi o álbum que recebeu o disco de platina e elevou a banda ao pódio, infelizmente também foi quando a estrutura da banda começou a estremecer, ameaças de saídas, descontentamento com a liderança, mas mesmo assim continuaram até o terceiro álbum, que seria o último com a formação original.
Pra que escola, saúde e empregos? Se um povo doente, ignorante e na miséria é mais fácil de ser manipulado.
Texto de Chorão no encarte de Nadando Com Os Tubarões
Vinha então, em 2000, Nadando Com Os Tubarões, consolidava a banda entre as maiores do cenário nacional, ela só crescia e o atrito entre eles também. É notável que aqui eles haviam experimentado ainda mais, Ralé, Somos Extremes no Esporte e na Musica, A Banca, Pra Mais Tarde Fazermos a Cabeça e Trocando Uma Ideia Com Deus deixavam claro isso. O álbum refletia um momento difícil na vida de Chorão que sempre colocava nas letras, a sua vida, nesta ocasião muitas letras falavam sobre a relação dele com o pai, que faleceria mais tarde naquele ano, Trocando Uma Ideia Com Deus é o reflexo disso, uma conversa com o pai, a conversa que faria falta futuramente, e que um dia fará para todos nós. Como dito anteriormente, esse é o último álbum com a formação original, Thiago Castanho tomaria outro rumo após uma briga com Chorão logo após o lançamento e o próximo disco da banda é o espelho dessa ocasião.
Com um som mais Punk e cru, 100% Charlie Brown Jr. - Abalando Sua Fábrica era lançado com o intuito de mostrar que mesmo estando em menor número agora, estavam mais fortes do que nunca, dessa vez era gravado com a EMI, que viria a se tornar a parceria mais longeva da banda; e foi lançado apenas um ano após o anterior. O álbum deixava o Rap de lado, e também as participações especiais, sendo o primeiro disco da banda, até então, a não conter elas. Era essencialmente bem mais curto que os anteriores, tendo pouco mais de meia hora de duração, mas isso não quer dizer que era pior, Lugar Ao Sol, Hoje Eu Acordei Feliz, Como Tudo Deve Ser, Tudo Pro Alto e a não tão famosa, Eu Protesto eram a prova de que eles não perdiam a qualidade; aqui Marcão brilhava com os mais criativos arranjos de guitarra para suprir o espaço que a segunda guitarra deixava.
…Todos os amigos que daqui se foram, pois todo nosso tempo, nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor. Que Deus nos proteja!…
Agradecimento da banda no encarte do CD, 100% Charlie Brown Jr.
Agora consolidados, a banda estava em sua melhor fase, produzindo todo ano um disco novo, sempre sendo indicados para prêmios e condecorados pelos seus desempenhos ao vivo. Em 2002, chegavam às lojas, Bocas Ordinárias, que trazia uma sonoridade pesada focada no Rock, entretanto, trazia de volta o Rap em algumas faixas, e pela primeira vez uma em inglês, algo que seria comum nos próximos álbuns. Em uma entrevista em prol do lançamento do álbum, Chorão dizia que este disco era a continuação do anterior, visando voltar às origens e reforçar a ideia do anterior.
Chegava então uma das melhores oportunidades que a banda receberia, um convite para o Acústico MTV, obviamente eles não recusaram e foi gravado em dois dias no Teatro Mars.
Sendo uma das melhores performances da iniciativa (e um dos maiores marcos da banda), trazia os hits e não deixava a desejar. A tradução para o acústico sempre é uma tarefa complicada, mas aqui, eles arrasaram com ela. Contava com as participações especiais de Marcelo Nova, RZO, Negra Li, Marcelo D2 e Tadeu Patola como segundo violão. O repertório continha Hoje, Oba Lá Vem Ela, Samba Makossa, A Banca, Não É Sério, além das duas inéditas, Vícios e Virtudes e Não Uso Sapato; a banda utilizaria futuramente o mesmo conceito aqui aplicado em seus shows ao vivo.
Após dois anos sem músicas inéditas, Tamo Ai Na Atividade era lançado em 2004, álbum esse que venceu o prêmio Grammy Latino de 2005 e foi certificado como um disco de platina. Apesar do sucesso, as coisas não estavam boas entre os integrantes, o que ocasionou a saída de Champignon, Marcão e Pelado.
O que parecia uma tarefa complicada, seria até rápida. Com o sucesso enorme da banda, não foi difícil achar substitutos; entravam Heitor Gomes, Pinguim e voltava Thiago Castanho. Essa formação lançaria Imunidade Musical em 2005 e também Ritmo, Ritual e Responsa logo em 2007. A partir daqui era abandonado o que foi Charlie Brown Jr. e sua essência, deixando o Rap, Hardcore, Ska e tudo que fazia eles se destacarem, para trás. Com a exceção de Ritmo, Ritual e Responsa que tentava resgatar essa essência, porém seria deixada para trás novamente nos seguintes discos.
Pinguim saia após Ritmo, Ritual e Responsa e Bruno Graveto entrava em seu lugar, que ficaria até o fim da banda, lançando Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva, último álbum com Heitor Gomes; e La Família 013. Champignon e Marcão faziam as pazes com o Chorão e voltariam para o desenvolvimento do anterior.
Álbum esse que seria lançado postumamente à morte de Chorão e Champignon, no final de 2013, incluindo a faixa que havia sido descartada por Chorão, Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero.
Hoje o legado continua através do CBJR | Marcão Britto & Thiago Castanho; projeto independente dos dois guitarristas principais da banda. Projetos como esse, bandas covers e o repasse entre gerações sempre manterão o legado vivo, apesar disso, farão falta para nós.